Professor da USP analisa os quartetos de cordas de Villa-Lobos
Em livro, Paulo de Tarso Salles investiga uma das maiores séries de quartetos do século 20
09/04/2019
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Em seu novo livro, Os Quartetos de Cordas de Villa-Lobos – Forma e Função, o professor Paulo de Tarso Salles, docente de Teoria e Análise Musical do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, investiga os processos e aspectos composicionais e formais dos 17 quartetos de cordas de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), considerado o mais importante compositor brasileiro.
O conjunto de seus quartetos de cordas, datado de entre 1915 e 1957, compõe uma das maiores séries de quartetos do século 20, fato que demonstra a importância dada pelo compositor a esse grupo de música de câmara, formado por dois violinos, uma viola e um violoncelo. Além desses 17 quartetos, Villa-Lobos escreveu mais seis obras para esses quatro instrumentos, segundo o catálogo publicado pelo Museu Villa-Lobos do Rio de Janeiro.
Lançado pela Edusp, o livro é dividido em quatro partes. Na primeira, Salles contextualiza o leitor diante dos quartetos de Villa-Lobos e faz uma revisão bibliográfica de outros estudos dedicados a essas obras. Ele comenta que, apesar de certas obras do compositor apresentarem algumas datas de composição questionadas por estudiosos, pode-se dizer que Villa-Lobos esteve dedicado à composição de quartetos durante praticamente toda sua vida. Apenas durante a década de 1920, quando viveu em Paris, ele não apresentou obras escritas para essa instrumentação, dedicando-se aos Choros e a outras formações camerísticas. Ao retornar ao Brasil, nos anos 1930, retomou a série de quartetos, na mesma época em que começou a compor a conhecida série Bachianas Brasileiras, na qual promoveu o diálogo entre o compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750) e a música popular brasileira.
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Segundo Arnaldo Estrella, Villa-Lobos afirmava, em conversas particulares, ter adquirido muito do seu “métier de compositor” estudando os quartetos de Joseph Haydn. Porém, Paulo de Tarso Salles aponta que é intrigante o fato de Villa-Lobos ter escolhido Haydn como modelo formal, pois no início do século 20 o compositor austríaco ainda não integrava o “cânone dos maiores compositores”, já que sua redescoberta se deu em 1932, por ocasião de seu bicentenário de nascimento. Mesmo assim, o recorte formal clássico do Quarteto de Cordas número 6, de 1938, pode ser associado com esse interesse por Hadyn, trazendo a forma sonata para seu estilo maduro.
Apesar dessas influências, não é raro Villa-Lobos ser considerado por estudiosos um compositor intuitivo, pouco racional e anti-intelectual. Na contramão desse pensamento, Paulo de Tarso Salles apresenta, na terceira e na quarta parte do seu livro, uma análise dos quartetos que segue por diferentes caminhos das áreas da musicologia histórica, da semiótica e da teoria e análise musical, resultando em um estudo aprofundado sobre a correlação da estrutura musical com os elementos retóricos de identidade nacional, a noção de simetria e a função formal na obra do compositor, assim como as tópicas musicais brasileiras concebidas por Villa-Lobos.