Poesia filosófica de Hölderlin faz a crítica da razão moderna
Edusp lança “Fragmentos de Poética e Estética”, do autor de “Pão e Vinho”
19/03/2021
Por Roberto C. G. Castro
O poeta alemão Johann Christian Friedrich Hölderlin (1770-1843) esteve profundamente envolvido com os principais temas filosóficos e estéticos de sua época, criando um rico e intenso diálogo com as filosofias de Kant, Fichte, Schelling e Hegel. Em Hölderlin, poesia e filosofia estão intimamente ligadas, tornando impossível distinguir uma da outra. Enquanto suas reflexões filosóficas são expostas em linguagem poética, sua poesia trata das principais questões da filosofia pós-kantiana. O autor de Brot und Wein (Pão e Vinho) personifica o ideal de um filósofo poeta ou de um poeta filosófico.
Essas reflexões estão contidas na introdução do livro Fragmentos de Poética e Estética, de Hölderlin, lançado recentemente pela Edusp, escrita pelo professor Ulisses Razzante Vaccari, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que também assina a tradução da obra.
Para Vaccari, a união entre poesia e filosofia em Hölderlin não se dá por mero diletantismo do poeta alemão. Trata-se, antes, de uma tentativa de reconquistar a função educadora da cultura que, desde a Antiguidade grega, cabia aos poetas e foi obscurecida nos tempos modernos. “O poeta moderno carece de uma formação poético-filosófica que lhe ensine a grandiosidade e a importância de Homero para a formação da polis e ao mesmo tempo lhe proporcione a consciência de sua própria função formadora diante da humanidade moderna”, escreve o professor na introdução, lembrando que é nesse contexto que se deve entender o significado do famoso verso presente em Pão e Vinho: “E para que poetas em tempos de indigência?”.
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O livro traz aforismos em que Hölderlin expõe sua visão sobre a poesia e a estética. Num deles, o poeta afirma: “O entusiasmo possui graus. Desde o jocoso, que é o mais inferior, até o entusiasmo do general que, no meio da batalha, se apodera imponente da clareza de pensamento do gênio, há uma escala infinita. Subir e descer nessa escala constitui a vocação e a glória do poeta”.