Original contribuição
João Adolfo Hansen produz uma crítica implacável à teleologia modernista e nacionalista
01/08/2019
Por Alcir Pécora
Por feliz iniciativa das professoras Cilaine Alves Cunha e Mayra Laudanna, a Edusp está lançando Agudezas Seiscentistas e Outros Ensaios, compilação de trabalhos de João Adolfo Hansen, professor aposentado de Literatura Brasileira da USP, cujas contribuições nas áreas de Literatura e História Colonial, de Retórica e ainda de estudos sobre o Barroco, têm sido de grande importância desde o final dos anos 1980. Pode-se mesmo dizer que essas disciplinas ganharam novo fôlego, no Brasil, depois das intervenções de Hansen, que usualmente articulam vasta erudição e notável capacidade de sistematização conceitual.
E isso que afirmo, em termos acadêmicos, evidencia-se para mim também em termos pessoais. Não se trata aqui de dar depoimento doméstico, claro, e sim de celebrar o livro agora ao alcance de todos, mas, com a alegria dele, veio-me também a lembrança do momento em que o conheci, quando de meu exame de qualificação de doutorado, na USP, nos idos de 1989. Na ocasião, minha tese sobre o Padre Antonio Vieira causava alguma estranheza na área de Teoria Literária, onde a desenvolvia, por conta da centralidade que ela atribuía à Teologia e à Escolástica na interpretação dos sermões, deslocando para um segundo plano questões de caráter literário ou sociológico mais aceitas tradicionalmente. Pois Hansen, naquela ocasião, reforçou frontalmente o que eu propunha, tornando-se desde então um interlocutor intelectual constante, generoso, no ambiente nem sempre ameno ou estimulante da Universidade brasileira. Passados exatos trinta anos daquela ocasião, percebo com nitidez como uma carreira acadêmica se faz fundamentalmente a partir desses encontros intelectuais decisivos que se logra ter, possivelmente mais por sorte que merecimento.
Tornando, pois, ao lançamento: os trabalhos compilados em Agudezas Seiscentistas versam sobre a representação das letras coloniais luso-brasileiras dos séculos 16 a 18, e incluem o exame aprofundado de conceitos centrais do período como “razão de estado”, “discrição”, “espelho de príncipes”, “agudeza”, “engenho”, “emblemas”, “empresas” etc., além de outros referentes às matrizes retóricas antigas, como “ut pictura poesis”, “écfrasis”, “lugar comum”, “invenção”, “elocução” etc.
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