O naturalista pioneiro que saiu na defesa das florestas
A história de Frei Veloso, missionário, tipógrafo e cientista, é contada em novo livro da Edusp
13/09/2019
Por Leila Kiyomura
A importância do naturalista e franciscano José Mariano da Conceição Veloso na história luso-brasileira e das suas múltiplas funções no campo dos estudos científicos e editoriais em prol do estudo da botânica está no livro Frei Veloso e a Tipografia do Arco do Cego, lançamento da Edusp. Organizado por Ermelinda Moutinho Pataca e Fernando José Luna, leva o leitor a conhecer as reflexões e o trabalho do mineiro de São João del-Rei, que nasceu em 1742. Passados 208 anos de sua morte, o leitor se depara com um pesquisador dos tempos de hoje, que transita por várias áreas do conhecimento para defender a conservação das “matas brasílicas” em um recado para o rei dom João VI.
“Frei José Mariano da Conceição Veloso é bastante conhecido por seus estudos botânicos, especialmente pela elaboração da Flora Fluminense e, nos últimos anos, também como diretor da Tipografia do Arco do Cego, em Lisboa”, explicam os organizadores Ermelinda e Luna na introdução do livro. “Além dessas funções, o frade franciscano exerceu diversas atividades a serviço do Estado, que revelam suas múltiplas habilidades e o importante papel político que exerceu junto à Corte de Lisboa.”
O projeto do livro surgiu de dois seminários e uma exposição, em 2011, para homenagear Frei Veloso nos 200 anos de sua morte. Uma programação que foi elaborada por grupos de pesquisadores do Rio de Janeiro e São Paulo na Pinacoteca do Estado de São Paulo e no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. “Este livro apresenta os resultados desses eventos que divulgaram as diversas facetas do personagem, reveladas em diálogos interdisciplinares de pesquisadores estrangeiros e brasileiros que se dedicam ao entendimento das políticas econômicas e sociais associadas às artes, às ciências e à história editorial no período”, observam os organizadores.
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Recado ao rei dom João VI
“Mas eu, Senhor, que nasci no Brasil, e que nele estive mais de 40 anos, que vi e pisei três das suas mais notáveis capitanias, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e o governo do Espírito Santo, não posso ser insensível à acertada resolução de Vossa Alteza, quando promove a conservação das brasílicas matas: portanto devo pôr na presença de Vossa Alteza as reflexões a que me obrigam as minhas viagens botânicas.”
Nessa epígrafe, que está em sua obra O Fazendeiro do Brazil, de 1798, frei José Mariano da Conceição Veloso se apresenta ao rei dom João VI. “Buscamos aqui compreender a formação e atuação de Frei Veloso como naturalista, viajante e missionário franciscano no período em que esteve no Brasil, de 1742 a 1790, quando formou seu imaginário brasileiro e criou novas concepções teóricas, metodologias de viagens científicas e técnicas de história natural”, esclarece Ermelinda Moutinho Pataca, que é professora da Faculdade de Educação da USP.
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