Cordial discordância
Dramáticas, mas cheias de afeto, cartas entre Mário de Andrade e Alceu Amoroso Lima mostram que divergir pode ser uma arte
01/05/2019
Por Eduardo Jardim
Os dois nasceram em 1893. Alceu, de família rica com perfil aristocrático, pôde fazer parte de seus estudos na França. Mário, vindo de meio bem mais modesto, formou-se professor de piano no Conservatório Dramático e Musical, na capital paulista. Sua geração foi a primeira a chegar à idade adulta, já no Brasil republicano, podendo pesar os acertos e – muito mais – os erros do novo regime. Sua avaliação demonstrou que tudo ainda precisava ser feito. Jovens como Alceu Amoroso Lima, Mário de Andrade e tantos outros – os que participaram do movimento modernista, da renovação católica no Centro Dom Vital, do movimento Escola Nova, da Ação Integralista Brasileira, do incipiente Partido Comunista – se atribuíram como tarefa dar ao país uma nova direção.
Alceu Amoroso Lima ou Tristão de Athayde – nome usado para assinar suas crônicas – foi o primeiro crítico a comentar a poesia de Mário de Andrade (o livro Pauliceia Desvairada, de 1922), na coluna dominical de O Jornal, do Rio, em 1923. Depois de um encontro pessoal, os dois iniciaram, em 1925, uma correspondência, que, com alguns intervalos, perdurou até pouco antes da morte do poeta, em 1945.
Este importante conjunto de cartas é publicado em versão integral, pela Edusp e PUC-Rio, com organização e notas de Leandro Garcia Rodrigues. O volume é enriquecido com anexos que contêm os comentários que os amigos fizeram um sobre o outro em artigos e notas, algumas inéditas.
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