Agudezas Seiscentistas
21/10/2019
Por Alcir Pécora
Por feliz iniciativa de Cilaine Alves Cunha e Mayra Laudanna, professoras da USP, a Editora daquela Universidade está lançando Agudezas Seiscentistas e Outros Ensaios, compilação de trabalhos de João Adolfo Hansen, professor aposentado de Literatura Brasileira da mesma USP, cujas contribuições nas áreas de Literatura e História Colonial, de Retórica e ainda de estudos sobre o “Barroco”, têm sido de grande importância desde o final dos anos 80. Pode-se mesmo dizer que essas disciplinas ganharam novo fôlego, no Brasil, depois das intervenções de Hansen, que usualmente articulam vasta erudição e notável capacidade de sistematização conceitual.
E isso que afirmo, em termos acadêmicos, evidencia-se para mim também em termos pessoais. Não se trata aqui de dar depoimento doméstico, claro, e sim de celebrar o livro agora ao alcance de todos, mas, com a alegria dele, veio-me também a lembrança do momento em que o conheci, quando de meu exame de qualificação de doutorado, na USP, nos idos de 1989. Na ocasião, minha tese sobre o Padre Antonio Vieira causava alguma estranheza na área de Teoria Literária, onde a desenvolvia, por conta da centralidade que ela atribuía à Teologia e à Escolástica na interpretação dos sermões, deslocando para um segundo plano questões de caráter literário ou sociológico mais aceitas tradicionalmente.
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Tornando, pois, ao lançamento: os trabalhos compilados em Agudezas Seiscentistas versam sobre a representação das letras coloniais luso-brasileiras dos séculos XVI a XVIII, e incluem o exame aprofundado de conceitos centrais do período como “razão de estado”, “discrição”, “espelho de príncipes”, “agudeza”, “engenho”, “emblemas”, “empresas” etc., além de outros referentes às matrizes retóricas antigas, como “ut pictura poesis”, “écfrasis”, “lugar comum”, “invenção”, “elocução” etc.
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Finalmente, não poderia dar por finda a minha recomendação de leitura de Agudezas Seiscentistas e Outros Ensaios, sem referir o preciso e intransferível posfácio de Leon Kossovitch, professor aposentado do Departamento de Filosofia da USP, que tanto vale pelo saber que enuncia, como pela companhia que faz, pois Leon é o principal interlocutor de João Adolfo Hansen, desde os seus tempos de formação. Não imagino melhor intérprete a conduzir a leitura do volume.