Coleção
Em Cena

Credores
August Strindberg (1849-1912) escreveu mais de sessenta peças de teatro, além de romances e contos, e é considerado um renovador da literatura sueca. Credores foi escrita pelo autor numa época de grande produção artística, entre os anos de 1886 e 1890, quando escreveu cinco de suas peças mais conhecidas: Camaradas, Pai, Senhorita Júlia, A Mais Forte, além desta. Sua produção literária tem fortes traços autobiográficos, e segundo Elizabeth R. Azevedo no prefácio deste livro, a originalidade de sua obra está relacionada à modernização da forma, mais do que a novidades no enredo: a peça apresenta o tradicional triângulo amoroso, caro aos textos do realismo e naturalismo. Os conflitos e as contradições entre os três personagens são amplificados pela unidade de ação e o complexo jogo de ironia dramática que se desenrola. Esta edição conta com tradução direta do sueco feita pelo diretor Eduardo Tolentino de Araújo, em cotejo com outros… Leia mais

Dissidente
Michel Vinaver é um autor ainda inédito no Brasil em publicações ou em encenações. Este livro da coleção Em Cena apresenta pela primeira vez aos leitores brasileiros duas peças do dramaturgo francês: Dissidente e O Programa de Televisão, em tradução realizada por Catarina Sant Anna, também responsável pelo texto de apresentação Vinaver à Flor da Linguagem: Entre Heranças Vanguardistas e Brechtianas e pelas notas que acompanham o volume. Como observa a tradutora, nas peças de Vinaver vale o presente imediato e urgente, compondo uma sucessão de instantes em conexão daí a impropriedade de termos como cena ou ato em sua dramaturgia. A estrutura fragmentada das obras remete à fragmentação do cotidiano, trazendo para a cena a força do tempo presente, questão cara à dramaturgia do autor. Ao leitor, cabe enfrentar o desafio da leitura sem sinais de pontuação, à exceção das interrogações, tornando-se um receptor-criador ou o encenador do que… Leia mais

Os Encantos de Medeia
O mito grego da Medeia foi reinterpretado inúmeras vezes, desde Eurípides a Calderón de la Barca e Lope de Veja, apenas para citar alguns. Em Portugal, António José da Silva, o Judeu, criou sua versão do mito trágico, subvertendo-o: seu Os Encantos de Medeia é uma opereta cômica, analisada neste livro por Kênia Pereira, responsável pelas notas que acompanham a edição. Segundo a pesquisadora, Antônio José da Silva foi um dos poucos dramaturgos do mundo a apresentar uma Medeia lúdica e cômica. Em plena era de caça às bruxas, em um Portugal conservador e fanático, em que as mulheres eram sacrificadas por qualquer atitude de irreverência, o Judeu criou uma Medeia risível, com direito às tiradas espirituosas, uma Medeia sem filhos e que tem um final feliz, sem conhecer a punição… Leia mais

Estranho Interlúdio
Narrar as facetas do caráter de uma mulher em diversas fases de sua vida por meio de seus relacionamentos afetivos na condição de filha, esposa, amante e mãe é o ponto central desta peça. O Neill chamava-a de minha peça feminina e a protagonista, com seus olhos inalteravelmente misteriosos desviando a vida de três homens de sua órbita normal, desenvolve, em certa medida, o tema clássico do Eterno Feminino de Goethe. A peça rendeu ao autor seu segundo prêmio Pulitzer, seu lançamento em livro se constituiu um fenômeno editorial, e foi filmada mais de uma vez, a primeira delas em 1932. A técnica empregada envolve dois níveis de diálogo, aproximando-a do romance, especificamente, do romance de fluxo de consciência. O nível do pensamento aqui é o mais importante, de vez que vigora um questionamento da própria fala, ou da linguagem, vista no mais das vezes como falsa ou… Leia mais

Ivánov
Responsável por uma verdadeira subversão na estrutura tradicional da narrativa de ficção do século XIX, Tchékhov também se consagrou como dramaturgo, inovando a arte teatral, o que se verifica em particular na forma de construção das personagens. Encenada pela primeira vez em 1887, Ivánov é ainda uma peça atual, ao tratar, de modo peculiar, do tédio que sufoca os últimos anos da Rússia czarista. Embora seja praticamente a estréia de Tchékhov como dramaturgo, já se apresentam aqui os seus ingredientes característicos, como o jogo psicológico oculto nos diálogos, o subtexto rico de significações e as pausas e os vazios inesperados, numa articulação peculiar daquilo que se convencionou chamar de teatro de atmosfera… Leia mais

O Enxerto/ O Homem, a Besta e a Virtude
Estas duas comédias de costumes, além da data em que foram apresentadas por seu autor em Milão (1919), têm em comum outra característica: o erotismo. Se de forma velada e estilizada na primeira e de forma direta (e hilariante) na segunda, isso o leitor poderá avaliar, o que importa é que esse traço acaba contagiando a ambiência da peça inteira. Em O Homem, a Besta e a Virtude, Pirandello, utilizando uma linguagem de farsa, ataca uma série de hábitos e preconceitos da Itália burguesa de sua época, em particular os das relações sociais entre os sexos. O mesmo se dá em O Enxerto, mas neste o tom erótico, velado, é outro e o registro das falas, mais contido. Trata-se da subordinação de uma mulher a seu marido, a qual, apesar disso, possui uma margem de direitos e de crescimento interior. Com sua lógica de paradoxos, mais do que a de um devir natural, Pirandello despede-se nessas comédias dos ecos ainda românticos do vaudeville e passa do realismo verista àquilo que chama de… Leia mais

Piedade Cruel
Considerada pelo próprio autor como sua melhor realização, Piedade Cruel foi escrita em 1939 e estreou em 1946, depois de uma ausência de mais de dez anos de peças inéditas do autor nos palcos. Nela, O Neill abandona o experimentalismo com linguagens, formas e enredos, que caracterizou sua produção nos anos de 1920 e de 1930, para retomar certo realismo do início de sua carreira, enriquecido pela experiência atribulada em sua vida pessoal e como dramaturgo. Piedade Cruel discute a necessidade humana de criar ilusões para suportar o peso da vida, a paz de espírito como necessidade fundamental do homem, e toda a ação gira em torno do conflito entre a ilusão e o valor relativo da verdade. A riqueza da peça decorre de seus diversos níveis de leitura, de suas várias interpretações, da profundidade e da compaixão com que o autor retrata os seres humanos decaídos, mas irmanados pelo… Leia mais

O Sósia / Problemas do Teatro
Friedrich Dürrenmatt é um autor importante na literatura de expressão alemã, em particular na dramaturgia. Sua obra é múltipla: peças radiofônicas e de teatro, contos, romances, relatos de viagens, poesia e ensaios teóricos. Neste volume da coleção Em Cena, são apresentados pela primeira vez em português a peça radiofônica O Sósia, de 1946, e o ensaio Problemas do Teatro de 1955. A peça é um texto da primeira fase da produção do autor, na qual as personagens do escritor e diretor conduzem a trajetória do Homem e seu Sósia a quatro mãos, evidenciando os conflitos entre o homem e Deus em torno da justiça. As personagens têm certa dimensão trágica, mas a ação é cômica, baseada em paradoxos e ambivalências. O ensaio Problemas do Teatro traz as reflexões do autor sobre suas próprias posições em relação à arte dramática, explicitando seus modelos e suas divergências com… Leia mais

Tio Vânia
A. P. Tchékhov (1860-1904) redefiniu os parâmetros da dramaturgia, propondo uma desdramatização que leva ao enaltecimento do que é aparentemente desimportante. Segundo esse modelo, o mundo interior das personagens, aquilo que subjaz, fala mais alto. Tio Vânia: Cenas da Vida do Campo em Quatro Atos foi a segunda obra de Tchékhov com montagem teatral feita pela companhia do Teatro de Arte de Moscou, de Stanislávski e Nemiróvitch-Dántchenko, consolidando a já bem-sucedida parceria. A estreia aconteceu em 1899, após a montagem pelo TAM de A Gaivota, no ano anterior. A trama se passa em uma propriedade rural russa, na qual a chegada de dois visitantes vindos da cidade altera o cotidiano bucólico dos moradores. O contexto geral de avanço da urbanização e do modo de produção capitalista reflete-se na desorientação das personagens em meio a um modo de vida em extinção, marcadas pela sensação de impotência, imobilidade, vazio,… Leia mais

As Bodas de Fígaro
Esta é a comédia que serviu de base à famosa ópera de mesmo título composta por Mozart. Em tradução direta do original francês, o texto revela o domínio sofisticado que o autor tem das técnicas de dramaturgia. Personalidade contraditória, Beaumarchais viveu na Corte francesa da segunda metade do século XVIII época em que os abusos da aristocracia absolutista gestavam as condições para a eclosão do movimento revolucionário produzindo peças que se incorporaram definitivamente ao repertório da literatura teatral. As Bodas de Fígaro apresenta uma perspicaz crítica de costumes que funciona também como um vivo depoimento sobre os conflitos sociais que antecederam a Revolução… Leia mais