Livro conta a longa e tumultuada trajetória das bibliotecas
Edusp lança “História das Bibliotecas”, do historiador francês Frédéric Barbier
08/02/2019
Por Roberto C. G. Castro
As primeiras bibliotecas conhecidas, datadas de meados do quarto milênio antes de Cristo e localizadas na Mesopotâmia (atual Iraque), reuniam algumas centenas de pequenas tábuas de argila, com sinais gravados em escrita cuneiforme. A mais famosa biblioteca do mundo antigo – a de Alexandria, ligada à “morada das musas”, o Museu, instituição fundada por Ptolomeu I no final do século 3 antes de Cristo – moldou a cultura livresca ocidental e impôs um modelo de biblioteca que perdura até hoje. Com o advento do cristianismo, igrejas espalhadas pela Grécia e pelo Oriente Próximo fundam suas próprias bibliotecas, embora se restrinjam a guardar manuscritos da Bíblia, livros litúrgicos, atas e correspondências.
Essas são algumas observações extraídas das primeiras páginas do livro História das Bibliotecas – De Alexandria às Bibliotecas Virtuais, do historiador francês Frédéric Barbier, que a Edusp acaba de lançar. Com 400 páginas, a obra percorre toda a história dessa instituição dedicada à conservação da cultura escrita. O livro é “um convite à reflexão sobre os muitos paradoxos que as revoluções nos sistemas de comunicação e sistematização da informação vêm sofrendo”, escreve na orelha do livro a professora Marisa Midori, docente do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e colunista da Rádio USP. “De um lado, como evitar o esvaziamento de antigas bibliotecas e de coleções inteiras de livros e de periódicos que são paulatinamente publicados na internet? De outro lado, como sistematizar e tornar inteligível um verdadeiro oceano de escritos que se renova a cada dia?”
Como mostra o livro de Barbier, as bibliotecas têm uma longa história de conflitos, mas também de superação e de grandes serviços prestados à educação ocidental. A partir do século 4 depois de Cristo, uma série de acontecimentos marca profundamente o trabalho dessas instituições. Entre esses acontecimentos estão as recorrentes crises do Império Romano e a chegada ao Ocidente dos povos “bárbaros”, pouco ou não alfabetizados, que ocasionam a destruição de bibliotecas inteiras. Além disso, a substituição dos volumen de papiro pelo codex em pergaminho faz com que no novo suporte seja reproduzida apenas parte dos textos até então conservados, enquanto o restante é perdido.
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Depois de expor a trajetória das bibliotecas nos séculos seguintes à invenção da imprensa, Barbier conclui seu livro analisando o papel dessas instituições no terceiro milênio. “A biblioteca e seu pessoal são uma estrutura de expertise e de construção de novos conhecimentos – particularmente no setor da história do livro e das mídias, e determinadas bibliotecas têm, aliás, com razão o status de equipe de pesquisa, ou são associadas a equipes de pesquisa reconhecidas”, escreve o historiador em suas conclusões. “Mais amplamente, a biblioteca deverá tornar inteligível a articulação entre o presente e o passado das mídias: em muitas bibliotecas que conservam coleções antigas e onde estas só são muito pouco solicitadas, a instituição deverá valorizá-las e deverá fazer com que sejam compreendidas por meio de determinado número de ações – em primeiro lugar, exposições.” Para Barbier, a tradição do pensamento ocidental está ligada ao livro há vários milênios e, portanto, é importante poder apropriar-se dela para perceber melhor as transformações em curso. “Hoje, ainda mais do que ontem, a biblioteca terá que se definir e se redefinir como o ‘espaço público do conhecimento’.”
Leia o texto original na íntegra no Jornal da Usp