Como a representação da mulher mudou da Idade Média a Hollywood
Isabelle Anchieta pesquisou a evolução das imagens femininas e detalhou sua investigação no livro 'Imagens da Mulher no Ocidente Moderno'
15/02/2020
Por Júlia Corrêa
Ao percorrer as galerias do Palazzo Pitti, em Florença, a socióloga Isabelle Anchieta percebeu que havia algo de errado. Pediu para falar com a equipe do museu e questionou se não havia um equívoco na atribuição da autoria de uma pintura à artista Artemisia Gentileschi. Foi então que a responsável pelo museu lhe contou que, naquela semana, um grupo de especialistas já havia identificado o erro.
Como Isabelle notou tal engano? Observando imagens. Muitas imagens. Por oito anos, ela dedicou-se a uma impressionante pesquisa sobre as mulheres no Ocidente, que seria sua tese de doutorado defendida na USP e acaba de ser transformada em livro com edição luxuosa da Edusp. Mais precisamente, três livros.
Imagens da Mulher no Ocidente Moderno está dividido em três volumes de distintos recortes. O primeiro tomo estabelece um rico diálogo entre as imagens das bruxas da Idade Média e as das índias tupinambás canibais; o segundo volta-se às diferentes representações de Maria e Maria Madalena; já o último aborda as transgressões das estrelas de Hollywood.
Isabelle fez questão de ver de perto a maior parte das imagens analisadas, entre obras de arte, livros e panfletos. Nessa verdadeira imersão, procurou identificar questões como a relação das imagens das mulheres com as disputas sociais por reconhecimento. Dessa investigação, resulta o que a pesquisadora chamou de “individumanização”. Isto é, um processo que engloba desde a luta das mulheres para humanizar-se – desvencilhando-se dos estereótipos de bruxas ou santas – até o desejo de serem associadas a uma personalidade inconfundível. Na entrevista a seguir, Isabelle conta como buscou traçar a história social dessas imagens.
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