Intelectual argentino esmiúça busca por identidade coletiva latino-americana em lançamento da Edusp

Carlos Altamirano é um dos principais nomes do 6º Congresso de História Intelectual da América Latina (Chial), que ocorrerá entre os dias 26 e 28 de julho na USP

Em Edusp

Por Divulgação

A busca de uma identidade coletiva da América Latina é o tema do livro “A Invenção de Nossa América: Obsessões, Narrativas e Debates sobre a Identidade da América Latina”, do sociólogo argentino Carlos Altamirano. Promovendo uma extensa reconstrução histórica de tal busca, essa publicação da Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) será lançada oficialmente no dia 27 de julho, às 18 horas, na Livraria João Alexandre Barbosa (avenida Professor Luciano Gualberto, 78, Cidade Universitária, São Paulo-SP).

Altamirano é um dos principais convidados da sexta edição do Congresso de História Intelectual da América Latina (Chial), que ocorrerá entre os dias 26 e 28 de julho, na Universidade de São Paulo (USP). Desde a primeira edição, em 2012, na Colômbia, o evento aconteceu em diferentes países do continente. Neste ano, o congresso terá como tema principal “Os Intelectuais”, contando com a participação de Altamirano no dia 27, no debate “A Invenção da Nossa América”, a partir das 11 horas.

Carlos Altamirano é graduado em letras pela Universidad Nacional del Nordeste, na província de Corrientes (Argentina). Mudou-se para Buenos Aires no final dos anos de 1960 e trabalhou em editoras, tendo integrado, no fim dos anos de 1970, o projeto coletivo que lançou a revista de crítica cultural “Punto de Vista”. Fez parte da equipe de diversas revistas culturais, atuou como professor na Universidad Nacional de Quilmes (Argentina) e foi pesquisador do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet).

Atualmente, participa do Centro de Historia Intelectual (CHI) da Universidad Nacional de Quilmes, em que integra o conselho diretor da revista “Prismas”, e, juntamente a seus colegas Ricardo Piglia e Beatriz Sarlo, é considerado um dos principais intelectuais argentinos de seu tempo.

Quais são as origens da obsessão e da preocupação constante por uma identidade coletiva para a América Latina?

Carlos Altamirano: Encontrei a imagem dessa obsessão no trabalho de uma ensaísta brasileira, Leyla Perrone-Moisés. Achei o termo adequado para evocar a longa reflexão identitária na América Latina. O ser do conjunto social, cultural e político ao sul do rio Grande, entre os Estados Unidos e o México, tem sido um tema frequente da ficção e do pensamento latino-americanos. Para definir o momento de início de tal indagação entre nossas elites culturais, temos de pensar na entrada das doutrinas do romantismo nesses países.

Há uma menção dessa dificuldade em encontrar uma identidade também no Brasil, descrito como “o gigante vizinho”. Como se assemelham as buscas por uma identidade no Brasil e nos demais países latino-americanos?

CA: No Brasil, como no resto dos países do subcontinente, tem-se produzido uma vasta literatura sobre a questão da identidade, mas, em geral, essa investigação se refere à identidade nacional brasileira. Como observou Leslie Bethell: “À medida que os escritores e intelectuais brasileiros pensavam no mundo para além do Brasil, não olhavam para a América espanhola – não se viam como parte da ‘América Latina’ –, mas para a Europa, em especial para a França, ou, mais raramente, para a América como um todo, incluindo os Estados Unidos”. Os vizinhos hispano-americanos pareciam ser países instáveis, com constantes guerras civis. Parece-me que, no pensamento das elites brasileiras, a visão de que o Brasil seria também um país latino-americano só se enraizou após a Segunda Guerra Mundial. Cito um dado de valor simbólico: em 1949, um jovem economista brasileiro, Celso Furtado, passa a integrar a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), criada um ano antes. Os grandes temas da época latino-americanista do pensamento brasileiro foram, em primeiro lugar, o desenvolvimento (e o subdesenvolvimento) e, depois, a dependência. Pensemos em livros com forte eco latino-americano, como os do próprio Furtado ou os de Fernando Henrique Cardoso.

Há como chegar a um único rótulo ou definição de identidade? Baseando-se em quais critérios?

CA: O termo “identidade” pertence a várias linguagens intelectuais, a diferentes repertórios discursivos. De um lado, o da tradição filosófica ocidental, cujo princípio de identidade (A = A) foi uma das bases da lógica tradicional. De outro, nas sociedades modernas, o tema da identidade, individual ou coletiva, é associado às ciências sociais, da antropologia à sociologia. Também nas sociedades modernas, a noção de identidade é invocada para indicar algo que deve ser criado, incutido ou defendido, uma tarefa que é levada a cabo pelo Estado nacional e por certas instituições, como as escolas ou as igrejas. É igualmente tarefa das elites culturais (narrativas e argumentos identitários etc.). As perguntas e as respostas referentes à questão da identidade daquilo a que se chama “nossa América” pertencem a esse repertório. Mas, ao separar tão nitidamente as esferas dessas linguagens, como acabo de fazer, como se fossem incomunicáveis, simplificamos demais as coisas. Muitas vezes a questão da identidade situa-se na intersecção dessas linguagens.

Como o livro se relaciona com o tema do 6º Congresso de História Intelectual da América Latina (Chial), que ocorrerá na Universidade de São Paulo em julho deste ano, e com o debate reflexivo sobre a especialidade acadêmica nas diversas áreas da atualidade?

CA: Os ensaios deste livro pertencem à área da história das ideias e da história das elites culturais nos nossos países, dois campos que fazem parte daquilo que chamamos história intelectual, pelo menos na América Latina. Isto é, desde a criação desse congresso em 2012, na Colômbia.

 

 

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